O fraco desempenho do Investimento Estrangeiro Direto na América Latina

O setor externo possui uma grande importância para as economias em desenvolvimento, seja pela exportação de produtos primários e pela importação de tecnologia inexistente para o país, ou mesmo pela captação de recursos para o investimento interno. O objetivo deste texto é apresentar um panorama geral do IED para as economias latino-americanas e apresentar as suas perspectivas[1].

Ao analisarmos o demonstrativo mais importante de uma economia em relação ao setor externo – Balanço de Pagamentos – percebe-se há uma clara diferença entre os recursos aportados apenas para a compra ou a venda de produtos por parte de um país, e o recebimento de investimentos. O primeiro compõe a Balança de Transações Correntes, no qual são analisadas as transações relativas à compra de produtos ou serviços de um país para outro, enquanto que o segundo está inserido nas Contas Capital e Financeira, que ilustram o fluxo de capitais no mercado financeiro (mais especificamente).

Na conta financeira, destaca-se o Investimento Estrangeiro Direto (IED). De uma forma geral, o IED se refere a todo aporte de capital investido na estrutura produtiva do país, seja na forma de investimento em novas empresas, fusões e aquisições ou mesmo por empréstimos intercompanhias. As vantagens deste tipo de investimento é que a capacidade produtiva do país aumenta de forma substantiva, reduzindo o desemprego e aumentando o produto do país, especialmente quando comparado com o investimento de curto prazo (ou mesmo especulativo) no mercado financeiro.

A literatura econômica que estuda o comportamento do IED elenca uma série de fatores que influenciam o direcionamento de recursos para um país. Desde variáveis que indicam o comportamento setorial para um determinado produto, por exemplo o preço de uma commodity na qual o país seja muito forte, até as variáveis econômicas mais conjunturais, como o comportamento do PIB, a taxa de juros, o grau de abertura econômica do país e o risco país (medido pelo spread do título público nacional em relação ao título público norte-americano)[2]. Pela figura a seguir, verifica-se a importância do IED em proporção do PIB para a América Latina. Em países como o Brasil, Chile e Colômbia, a participação do IED ultrapassa os 4% do PIB, o que é um valor muito representativo, e em países menores, como o Panamá, esse valor chega à casa dos 10% do PIB.

Figura 1 – Fluxo de IED em % do PIB

                                                                       Fonte: CEPAL (2017) – Foreign Direct Investment in Latin America and the Caribbean

 

Em estudo divulgado pela CEPAL, no último ano, o fluxo de IED no mundo atingiu a marca de 1,7 trilhões de dólares, porém foi 2% menor que o dado de 2015. Já para a América Latina e o Caribe, a região recebeu cerca de 10% deste montante, com o valor de 167 bilhões de dólares no ano passado, porém com uma queda mais expressiva, da ordem de 8% com relação ao ano de 2015.

Para a região, o Brasil é o maior recebedor de IED com cerca de 78 bilhões de dólares em 2016 e, mesmo com a recessão severa enfrentada nos últimos anos, este indicador apresentou crescimento de quase 6% com relação à 2015. Outro destaque para a região fica por conta da Colômbia, o segundo país com relação ao fluxo de IED, com cerca de 13 bilhões de dólares, um aumento de 16% com relação ao ano de 2015.

O ano de 2016 apresentou uma mudança na composição do IED para a América Latina como um todo. Segundo o relatório da CEPAL, o setor que mais cresceu no período foi o de energia renovável, com uma taxa de crescimento de 200% com relação ao ano de 2010, quando representava cerca de 6% do IED e, no ano passado, representou cerca de 18%. Neste segmento destaca-se a captação de recursos por parte do Chile, México (em grande parte em virtude das reformas do setor energético) e Brasil.

Com relação aos investidores na região, o perfil geral indica que os maiores investimentos da região são originários da Europa, seguidos por países da América Latina, Estados Unidos, Japão e Canadá. Porém, o perfil é diferente quando tratamos dos países individualmente. Por exemplo, grande parte do IED que entra no Brasil é originário da Europa (71%) e a participação norte americana é de apenas 12%. Já para o caso Mexicano, a participação entre os investimentos europeus (32%) e norte americano (39%) é bem equilibrada.

O IED na região nos últimos tempos foi combalido pelo fraco desempenho macroeconômico das economias (o que é um sinal de enfraquecimento do mercado interno dos países e, portanto, um dado negativo para os investidores), bem como a retomada da onda protecionista na Europa e nos Estados Unidos. Some-se a esta conjunção de fatores, o fato que as economias sul-americanas são especializadas em produção de commodities derivadas de recursos naturais, o que está relacionado fortemente com o crescimento da economia mundial.

A CEPAL aponta que em 2017 o IED para a região sofrerá uma nova queda de 5% pelos fatores apontados anteriormente, porém ainda continuará sendo importante para o desenvolvimento econômico do país (com geração de emprego e aumento da renda do pais) e setorial (com aumento de produtividade e transferência de tecnologia, bem como fundamental para o aumento das exportações de cada um dos setores da economia).

Notas:

[1] Os dados deste estudo foram retirados do estudo da CEPAL (2017) – Foreign Direct Investment in Latin America and the Caribbean

[2] Para saber mais: ALEXANDRE, A.; CARIO, S. A. F; VOIDILA, T. M. Investimento Direto Externo na Economia Brasileira nos anos 1990: Significado, Alcance e Consequências ao Desenvolvimento. Textos de Economia, v. 7, n. 1, p. 103- 136, 2002. CASSUCE, F. C. C.; CAMPOS, A. C.; MATTOS, L. B. Determinantes dos Investimentos Diretos Estrangeiros no Brasil, 1980-2004. Revista Economia Contemporânea, Rio de Janeiro, 11(1): p. 39-60, jan./abr. 2007.

Beatriz Amaral

Beatriz Amaral Analista Júnior Bacharelanda em Relações Internacionais

Luísa Lotto

Luísa Lotto Analista Júnior Bacharelanda em Relações Internacionais

Caio Nielsen

Caio Nielsen Analista Júnior Bacharelando em Relações Internacionais