O aumento da violência no México e seu impacto nas eleições

O objetivo deste artigo é apresentar a situação atual do México – seu período mais violento dos últimos anos e as causas do aumento da violência, relacionando a crise de segurança pública com os cartéis do narcotráfico. A partir disto, serão expostos os riscos econômicos, políticos e de politica externa. As questões principais são os reflexos desta crise no cenário econômico e a probabilidade de recuo de investidores. No âmbito nacional as eleições presidenciais são determinantes para definir as respostas ao incremento da violência que assola o país. As complicações da política internacional e os novos rumos do NAFTA também serão abordados, além do impacto das caravanas de migrantes em direção aos Estados Unidos, que passam pelo México. Por fim, uma conclusão, a fim de estabelecer quais os desdobramentos esperados a partir das análises.

O relatório de homicídios do secretariado executivo do México de março indica um acréscimo de 20% no número de assassinatos no primeiro trimestre de 2018 (7.667) quando comparados com os dados de 2017 (6.406). Além disso, no ano passado foram registrados mais de 3 sequestros e 35 casos de estupros por dia e 26 roubos violentos por hora. [1] Este aumento expressivo no número de mortos pode ser atribuído a fragmentação dos cartéis mexicanos, que em 2006 eram 7 e passam a ser mais de 400 em 2017. Tendo em vista que 2018 é ano de eleições, a visibilidade dos políticos e os discursos contra os cartéis aumentam. Neste cenário, o número dos assassinatos tem reflexo no ambiente político visto que nos últimos 7 meses mais de 80 políticos e candidatos foram assassinados [2].

Enxerga-se, a partir disto, uma relação direta da instabilidade institucional e corrupção no governo mexicano com a fragilidade da segurança pública em muitas cidades. No ranking de corrupção e transparência, o México fica em 135º lugar com 29 pontos (CORRUPTION PERCEPTION INDEX, 2017). Além disso, os políticos assassinados não tinham nenhuma ligação entre si, além da pauta do combate aos cartéis mexicanos, e estes homicídios demonstram a ausência do Estado em prover as necessidades básicas aos seus cidadãos.

No âmbito econômico, o aumento dos homicídios amplia a probabilidade do recuo de investimentos no país. A instabilidade, juntamente com a deficiência na segurança pública gera incerteza para os investidores. Este recuo é fortalecido, também, devido ao líder das pesquisas para eleições presidenciais Andrés Manuel López Obrador, centro-esquerda, ter uma proposta de economia mais fechada, já declarando, por exemplo, frear a reforma do petróleo. As pesquisas eleitorais, além de apontarem López como favorito, também mostram que seus concorrentes participam de forma independente, demonstrando a falta de identificação dos candidatos com os partidos. Esta, por sua vez, reflete na crise de representatividade enfrentada pela população do México, que indica eleições comprometidas.

Recentemente, novos acontecimentos que podem agravar a situação de segurança pública no país, deram margem para declarações de Donald Trump em relação ao acordo do NAFTA. Caravanas compostas por nacionais, majoritariamente, de El Salvador e Honduras – que possuem cidades no ranking das 50 cidades mais violentas do mundo, de acordo com o Consejo Ciudadano para la Seguridad Pública y la Justicia Penal (2018) – chegaram na fronteira México-Estados Unidos para pedir asilo às autoridades americanas como alternativa de escape da situação violenta a qual os nacionais de países da América Central vivem, principalmente, devido a falta de segurança gerada por gangues, cartéis e violência doméstica. Trump pediu que as caravanas fossem interrompidas e mobilizou a Guarda Nacional para reforçar as fronteiras, seguido da reafirmação que o novo acordo do Nafta deve contemplar também as questões migratórias [3]. Enquanto o governo mexicano ofereceu permissões de trânsito de até um mês para que os migrantes decidam entre retornar a seus países de origem, solicitar refúgio no México ou continuar a busca por asilo nos Estados unidos. [4] A preocupação do governo mexicano com as questões migratórias faz com que o foco do Presidente Henrique Peña Nieto fique dividido, mesmo que momentaneamente, uma vez que as caravanas contribuem negativamente paras questões de segurança do país – principalmente se os imigrantes não tiverem seus pedidos de asilo atendidos pelos EUA.

Em suma, o México passa por um momento econômico e político sensível, tanto no âmbito nacional quanto internacional. A divisão do foco do governo demonstra fragilidade e dificuldade em gerir tanto as crises internas quanto as externas, assim a probabilidade e o impacto dessa realidade nas questões de segurança pública são altos. O risco do recuo dos investidores e o discurso de Trump sobre a agenda bilateral, somados à um ano eleitoral caracterizado por incertezas faz com que as resoluções dos problemas de segurança pública entrem em contradição, uma vez que prover auxilio às caravanas aumenta os riscos políticos como, por exemplo, o governo americano dificultar um possível novo acordo do NAFTA – que seria benéfico para todas as partes.

[1] EL PAÍS. México atravessa o momento mais sangrento de sua história. 2018. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/01/21/internacional/1516560052_678394.html Último acesso em: 30/04/2018.

[2] UOL. A meses da eleição, México tem 82 políticos assassinados em disputa mais sangrenta da história. 2018. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2018/05/01/assassinatos-politicos-abalam-eleicoes-no-mexico.htm Último acesso em: 01/05/2018.

[3] CNN. A few migrants start asylum requests, but most of the caravan is still in tents. 2018. Disponível em: https://edition.cnn.com/2018/05/01/americas/caravan-migrants-us-border/index.html?sr=fbCNNp050118caravan-migrants-us-border0750AMVODtop&CNNPolitics=fb Último acesso em: 02/05/2018.

[4] G1. Migrantes centro-americanos chegam à fronteira México-EUA para pedir asilo. 2018. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/migrantes-centro-americanos-chegam-a-fronteira-mexico-eua-para-pedir-asilo.ghtml Último acesso em: 02/05/2018.

Beatriz Amaral

Beatriz Amaral Analista Júnior Bacharelanda em Relações Internacionais

Luísa Lotto

Luísa Lotto Analista Júnior Bacharelanda em Relações Internacionais

Caio Nielsen

Caio Nielsen Analista Júnior Bacharelando em Relações Internacionais